Tradutor

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Era um simples lobo solitário

Era um simples lobo solitário

Era final do verão, um verão que teimava em não acabar.
O calor e a sua chama de ser mais do que uma estação faziam-no invadir o já outras vezes respeitado outono.
Estava fogoso por mais, mas tudo tem o seu lugar e o frio rigoroso do inverno saiu da sua espera para dar um auxílio no equilíbrio do seu antecedente. Devolvendo desta forma cada um ao seu lugar natural.
Simples, frio e calculista como ele só, o inverno acabava de uma assentada com os problemas que apareciam e os que se adivinhavam.

Neste contexto, existia um lobo solitário.
Este lobo conseguia passar despercebido a maior parte do tempo, conseguia ser invadido como o outono, sem capacidade para se impor, para ser ele mesmo. Era a inércia em nome e conceito, era um lobo apenas em aparência.

No passado tinha sido como o verão, invadindo o espaço de tantos outonos que sem poder de dizer "não", o deixavam tomar conta do seu espaço.
Era imponente, fogoso, espontâneo, impulsivo, nervoso, feroz, e por vezes perdia a noção de bom senso, era o verão desta equação. Era algo que sendo instintivo não correspondia ao seu verdadeiro eu.

Nisto tomou um decisão que parecia irreversível.
Afastou-se, fugiu, desapareceu da vista, passou despercebido
ora calado, ora discreto, ora contido
era um inverno em idade do gelo.

Ninguém o via, ninguém o sentia
era silencioso, cinzento era inverno
era triste, feio, gordo, e até mal cheiroso
era uma estação do ano sem governo
sem fala nem apego
era carente de afeto
era demente por atenção mas nem por isso a procurava.
Nevava no seu espírito, era um lobo solitário calculista
deixava de ser para passar a ver
deixava a sua alma de lado, para nunca mais ser artista.
Era a sombra da sua própria sombra...

Um dia sem que nada o fizesse supor, pôs-se a prova
e sem que desse conta a luz tomou conta de si.
O seu espírito voltara a iluminar-se.
Voltava a confiar, voltava a acreditar.
De feridas lambidas, cambaleando, ora a correr, a passo ou rastejar
fez do seu sacrifício a expressão máxima da palavra ganhar.
Sozinho, lutou contra a descrença
Sozinho mas já não tão solitário, lutava com cada vez mais força para o seu regresso.
Sentiu o peso do regresso ao passado mas sempre com olhos postos no futuro.
Era o pensamento de se lembrar quem era que o movia
eram as pequenas conquistas que o faziam continuar.
As pernas foram ficando fortes a medida que o seu espírito se fortalecia,
o coração foi se enchendo à medida que o seu destino apenas a ele lhe pertencia.

Dai em diante ora acompanhado por amigos improváveis e pelos os do costume, regressava assim para uma nova etapa, uma nova estação.
A sua liberdade voltava em pleno, o seu espirito selvagem e livre ressuscitava.
Hoje o lobo solitário, voltou a florescer, voltou a sorrir.
Hoje o lobo não é mais solitário, é uma nova estação, hoje ele é a primavera que nunca foi e que sempre quis ser.
O lobo aprendeu a viver.



MA


4 comentários:

  1. "O lobo aprendeu a viver."
    Aprendeu porque a partir daí conseguiu sair a correr pelas montanhas, fosse qual fosse a estação do ano, fizesse frio, chuva ou calor... conquistou a liberdade como sua e não dependendo dos outros. Talvez porque valorizou as pequenas coisas como grandes porque a essência das coisas é o valor que lhe queremos dar. E o que vale a pena dar valor é o que nos faz feliz... nem que seja correr pelas montanhas.

    ResponderEliminar
  2. Um dia disseste-me que eu um dia podia ser o próximo presidente da câmara.
    A diferença está aí mesmo, deixei-me de possibilidades, de "ses" e de "podias ser" hoje faço e ponto final.
    Ideias, não passam de ideia enquanto estão na cabeça, mas quando provamos, quando apresentamos resultados todos prestam atenção. Felizmente pessoas como tu existem, pessoas como tu não precisam ver para acreditar, sentes e acreditas antes da maioria.
    Obrigado pelas palavras, obrigado pelas lições, obrigado pela AMIZADE (com as letras todas em caps lock)
    Parecendo que não tenho aprendido muito contigo Baguirá, não interessa o que foi apenas isso dará força para o que será.

    Até ao próximo desafio, até à próxima montanha.

    ResponderEliminar
  3. Um belo momento de escrita e reflexão.
    Continua!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Obrigado Paulo, continuei sim. Escrevi ontem a noite e publiquei.
      Espero que o leia, e que goste no regresso ao meu registo habitual.

      Eliminar